quarta-feira, julho 13, 2005

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longe vai o tempo dos jasmins
do oiro na tua cara rosa
do orvalho finíssimo

seria o mundo todo nosso
num pecado inconcebível para os outros
seria o fausto amor realidade
nunca antes vista ou imaginada

sou folha pisada
rosa sem pétalas
sedento desse orvalho ido

vejo-me puro, céptico
daquilo que foi
nada é em mim.

ser pássaro em tempo de chuva

voar como se o céu fosse apoio
deslizar em aspirações eternas
ver como o mundo desbarata
a alma

viro-me para ti
tento chegar-te cada vez
mais longe de mim

este abismo, não da massa
mas da vida,
que a abate como um pássaro
em tempo de chuva.

Homenagem a um tempo

sempre pensei que o tempo dos jasmins fosse eterno. na verdade, sempre senti o tempo como uma brisa cheia de murmúrios alegres e de vozes familiares. no fundo, era o tempo sem tempo em si.
não consigo entender porque tudo teve de mudar. os jasmins descoloriram e deixaram de ser, enquanto o tempo descascava as minhas pétalas favoritas e me enrijecia os ossos, como se fosse uma parede de um pesadelo ancestral, único e omnipresente.
o grito não me liberta e a mente não consegue encontrar a fórmula antiquíssima que libertou todos aqueles que, como eu, viram a vida dos dois lados. estivesse eu ou ela apagada como a noite ou como os fundos dos oceanos, onde a paz é tangível, ainda que inatingível.
sei que vou até aos limites do meu ser e sei que sempre confiarei em mim, só o posso fazer quando tudo o resto parece perecível nesse moinho de angústias e desesperos mudos em que a vida se tornou. já nada voltará, pois a essência das coisas e dos seres está identificada, acabando sempre por se manifestar nos mais disparatados pormenores ou facetas que a tornam tão ridícula... essa essência.
apetecia-me, e de certeza que desejo, tanto encontrar essa fórmula, essa magia de alma que me leve para um sítio onde os jasmins continuem a brilhar mais que a própria beleza, onde o vento e o tempo sejam um momento dessa paz profunda que apenas existe aí.
entretanto, a parede vai-me fazendo estalar os ossos...

sexta-feira, julho 08, 2005

londres, 08 de Julho de 2005


enquanto espero por uma actividade que ainda tenho de fazer, penso no que de mais importante aconteceu. não consigo evitar pensar em Londres. nas pessoas que não conheço, mas a quem gostaria de, alguma forma poder ajudar, confortar... sei que neste momento deve haver pessoas ainda aflitas porque o seu irmão, marido, tia, sobrinha, afilhada ou outra coisa qualquer saiu por aquela porta e, desde ontem, ainda não voltou a entrar; outras pessoas ainda choram apesar da garganta e dos olhos secos, do vazio de uma vida até aqui, pelo menos, mais cheia; outras pessoas sofrem o reviver do pânico, dos estrondos, dos estilhaços que não deixam dormir nem estar completamente acordadas... tenho vontade de ajudar. que mais não seja, aqui fica, neste espaço perdido da internet - que ninguém lê ou vai ler -, a minha homenagem, a minha solidariedade. é um pouco da minha humanidade.
não queria perder a oportunidade de reafirmá-la neste mundo cada vez mais de papelão ou falso, onde nada parece nem é. as notícias atrozes são, noutros locais, neste preciso momento, negócio, lucro para alguns, motivo de orgulho para outros, oportunidades que não se devem desperdiçar... deviamos, todos, parar!!! parar mesmo e chorar os mortos, confortar os feridos, pensar ou reflectir no que aconteceu e nos trouxe até aqui. mas parar é um luxo a que não nos podemos dar, decerto, até neste local e neste preciso momento. valer a pena o caminho que estamos a seguir é uma dúvida que me assola neste preciso momento, pois aquilo que nos assola é simplesmente ignorado ou rapidamente esquecido neste nosso mundo de cetim envelhecido e pequenino em que nos fechamos sempre que abrimos os olhos para um novo dia.
tenho ainda algo mais para fazer antes que termine o dia, vou ter de me concentrar nisso...
desculpem todos os que sofrem ou morreram. também sou pequenino...